DITO...BENDITO SEJA !
Naquele ano da revolução, ditadura militar,
Acontecimento que não gosto de lembrar,
Porque acho que homem de farda
Não é para governar nada,
Mas para defender o país, guardar fronteiras,
Se preciso, ir à guerra, defender a bandeira,
Seu lugar é o quartel ou a trincheira.
Pois foi nesta época negra da nossa história,
Em mil novecentos e sessenta e quatro,
Em São Paulo, na entrada de um teatro,
Que vi um menino, mais para escória.
Estava sentado, chorando, que tristeza !
Perguntei o que ocorria, com o coração partido,
Não suporto ver sofrer crianças e a natureza,
Idosos abandonados, animais feridos.
Falou-me da sua fome, medo e abandono,
Percebi que sentia-se como cão sem dono,
Tratei primeiro de matar a sua fome,
Antes, porém, perguntei seu nome.
- Chamam-me de Dito, acho que sou o Benedito.
É isso mesmo, a pobres chamam assim,
Mas se o rico tem esse nome, é bem dito,
" Benê ", letras do começo, não do fim.
Nunca vou esquecer deste fato,
Senti-me mal e impotente,
Guardo na mente o retrato,
Deste menino inocente.
Como é doloso saber,
Que tantos outros Ditos há,
E não podemos socorrer
Ou pelo menos a fome matar.
Ditinho, do coração,
Hoje sou ancião,
Mas oro para você.
Onde quer que esteja,
Que Nosso Senhor o proteja.
Quem sabe, num dia...
Abençoado, a gente se vê,
Sentirei muita alegria !
Auro.