MEMÓRIAS DE UM MORTO
Procura-se um tempo,
Perdido entre o zero e o oitenta.
Ainda a pouco o tinha,
Descuidei só por um momento!
Creio que acompanhou as nuvens
Indecisas de meus lamentos...
Escapou num piscar de olhos,
Juro, descuidei só por um momento!
Enquanto enamorava a perfeição
Enquanto dançava com o Nada
Enquanto o dia perdia-se
Na indecisão desatinada.
Procura-se um tempo!
Aviso a quem encontrá-lo,
Saiba que é indiferente
Ao que namora a demora
Ao que é dado à inação...
Traz a aparência do ontem
E de toda protelação.
Devolva-me se o sentir velho
Use-o, se encontrá-lo jovem
Desculpe-me se lhe parecer imperfeito,
É que às vezes, rarefeito
Assume a aparência tardia
Do deixado prá depois da hora.
Ah! Esquecia-me,
O seu cúmplice é a Vida,
Abundante como o Agora
Irremediável se adiada
Como os sonhos meus de outrora.