Tentando recordar...

À medida que vamos envelhecendo, vamos vivendo cada vez mais no passado. É lá que encontramos um nadinha de conforto... O presente é cada vez mais confuso, mais inquietante... O futuro é uma incógnita imensa, arrepiante...

Andei a mexer em papéis velhos dos meus tempos de moço sonhador e... inocente. Encontrei estes versos e achei-lhes graça... Uma certa ingenuidade, e já uma tracinho daquela angústia de ser que me acompanhou pela vida fora e que cresce ainda como a minha sombra neste ocaso iminente .

Leiam. Talvez atinem com o apelo do velho hortelão solitário e triste... e um bafejo de humana solidariedade vos toque a alma.

Talvez seja essa a redenção possível...



DO TEMPO

Do tempo
eu quero apenas
a parte que me tocar

Mas quero um tempo distenso

livre, leve,
imponderável...


Conceito de plano arável

horizontal e suspenso

entre um nada e outro nada



Do tempo eu quero apenas

a parte que me tocar...



Horta verbal, plano arável

tempo leve, imponderável...

um canteirinho me basta
para lançar a semente
da palavra a germinar


Do tempo 

eu quero apenas
a parte que me tocar...