O Amor Valeu

Não liguei muito,

Quando ela me comparou

A uma figura de aparência indesejável,

Que perambulava pelas ruas.

Nem mesmo quando disse pras amigas,

Que me vestia mal,

E não usava perfumes.

Não, não liguei.

Não me machucou muito,

Quando disse que, de mim,

Queria apenas amizade.

Ou, quando depois de sete meses,

Voltou a me ligar,

Num reconhecido gesto de boa vontade.

Não me machucou muito.

Tampouco me importei,

Ao saber, que as coisas que eu escrevia,

Não fazia parte da rotina do seu dia.

Não me importei, tenho quase certeza.

De todas as formas,

Tentei mudar tudo isso;

E confesso que até usei o poder de magia e sedução das palavras

Como forma de feitiço.

Ela não se importou.

Faltou Amor;

Sensibilidade, na verdade, pra entender e perceber

A dimensão de tudo.

Foi um sentimento de impotência, fragilidade, tristeza,

E só a certeza de que

O Amor valeu.

Pouco tempo depois;

Abateu-se sobre ela uma enorme tempestade:

Tramas, intrigas, traição, inimizades.

E quando as águas então baixaram;

O perfume que eu não tinha,

Ou as roupas que vestia.

Não fariam mais nenhuma diferença.

Limpo mesmo só pode sobreviver,

A pureza de cada momento,

E a verdade de sentimentos,

Que eu nunca deixei de ser.