Onde estão?
Onde Estão?
Onde estão
meus amigos,
minhas amigas,
queridas todas elas e
alguns deles também?
Eu sei que lá se vão anos,
tempos longínquos.
Alguns não os vejo
com eles não falo,
com elas não danço, nem beijo, nem os seus corpos afago
desde ontem...
Dias da juventude, dos sonhos, das vontades imensas,
nunca satisfeitas.
Dias das descobertas radicais,
definitivas.
Dos primeiros únicos amores.
Aonde estão as nossas mulheres?
Aquelas meninas que nos seduziam com apenas um rápido olhar
na porta do Mallet?
Eram dias de sofrimentos cósmicos,
inimagináveis,
insuportáveis,
que nos faziam pensar no gesto heróico do suicídio.
O Heitor, lembram dele? Moreno e sisudo, do terceiro ano,
suicidou-se...
Augusto, e os deboches?
E as irreverências?
E as gargalhadas relinchadas, assustadoras para as senhoras,
nas matinês do Roxy?
E os cinismos e os sofismas avassaladores?
Brilhantes.
Nos encantavam pelo escândalo que causavam,
você se lembra?
“Serei imortal enquanto os homens se lembrarem de mim”.
Citávamos Pasternak, que não lêramos,
mas com ele nos solidarizávamos, com militante generosidade
arrogante.
Que bom era o tempo das certezas completas.
Que fantásticos e aconchegantes eram os nossos segredos,
que na lucidez fugidia das nossas reflexões nem a nós mesmos
ousávamos confessar.
A descoberta de novas idéias,
eram aventuras que satisfaziam e agora,
hoje,
não satisfazem nem seduzem mais.
Que bem nos fez ter um “Encontro Marcado”..., com o Sabino,
aquele lá de Minas Gerais, nadador, íntimo amigo desconhecido.
Os campos de centeio nos seduziam...
Tudo vai aos poucos sumindo.
Até as imagens, as fotografias vão se perdendo.
Onde está a Estefânia? – Não pode ser ela a senhora encurvada que passa.
Vocês viram a Kátia, a que tocava violão
e que agora já não toca mais?
E a loura Abigail? - A que dava tão meigamente
nos vãos das escadas e virou socióloga,
dizem que morreu na guerrilha
usando o codinome de Rosa.
E o R e o G e o E e o C
o B e o JF
e o Alberto que foi para o mosteiro?
Onde estão vocês?
Não estão no bar – vocês não vão mais ao Alcazar.
Ninguém mais aparece no velho Lucas
que até já foi embora também, deixando velhas gravuras e fotos
do tempo das cadeiras de madeira, verdes, ali na varanda.
Copacabana de 1956,
se pudesse pedir que o tempo me devolvesse alguma coisa
pediria, apenas,
que voltasse a ter
aquilo que tive forte e gostoso,
no seio farto e generoso da tua noite tão humana
vontade de viver.
Sem quaisquer receios,
sem medo de ver o sol nascer,
na beira da praia,
altas horas,
no amor pleno e infinito de um instante só,
no corpo delicado e honesto das queridas sempre lembradas,
empregadas,
de cheiro tão próprio – sexo ardente e nas mãos a cebola do jantar.
As moças vinham confiantes se entregar,
tão puras,
que desapareceram,
todas elas,
na espuma do mar.
“Ah, ah, ah, flores pra Iemanjá,
O canto da sereia Ogum
É de admirar.”.
Hoje, sem elas, sem amigos, sem sonhos sequer
não posso, não quero mais viver.
Não tenho mais nem vontade de rir,
não tenho mais forças para ir
até o Rian, que não existe mais,
ver um bom filme – Trapézio, com a Lolobrigida,
e, depois, dormir na tranqüila segurança e certezas das noites da
minha Copacabana....
(Publicado in A Amada do Sonho, Frente Editora, 2001)