A RUA
A RUA
Somos uma penca de nervos
dentro desses elevadores.
Vozes de crianças que rolam
pela calçada,
meninotes descalços.
Os assovios dos assassinos disparam
o eletrocardiograma, e a luz da velha da esquina piscou.
Dentro da baleia um grito
--roupas sujas no varal!
Periquitos chiam entre a tela
do jardim de infância e o quadro negro,
nuvens que se chocam
portões que batem,
bêbados que gritam
-- menino veio menino veio!
Barulho de vasilha suja que cai
da pia de granito,
cachorros que se falam
em um camburão da prefeitura
pensando na espuma de sabão.
Terremoto a cada trinta minutos,
no ponto de ônibus,
e esse curto circuito em meu disjuntor
bipolar mental.
--Quale, e ai veio?
---Paga de gatão, paga de gatão,
ficou de cara,
um fio.
--Um surper fere o cílio
um supercílio superciliu,
e os olhos choram
e ela chora.
--Que chuva forte
cai lá dentro com
gosto de lagrima,
agora uma enxurrada faz um
Maremoto azul.