Nas margens do Reno (lembranças póstumas)
Despertei neste dia sem razão
Nenhuma lembrança
Nenhuma emoção
Cansado de uma desconhecida andança
Por alguma esquecida ilusão
Sinto que perdi algo importante
Mas não sei nem quem sou eu
Não sinto dor por ter esquecido o que esqueci
Sozinho em um mundo tão próximo e tão distante
Minha memória morreu
Será que tive amigos? Amores?
Será que fui feliz, ou tive dores?
Meu reflexo na água turva não me diz nada
Minha mente está limpa. Parada
Branca
Aos poucos, na beira da água fria,
Uma ou outra lembrança minha mente desafia
Um estranho sorriso surge na minha boca seca
A imagem de uma pessoa apareceu na minha cabeça
Não lembro dela
Mas foi uma pessoa importante
Meu coração arde como vela
Como posso estar tão próximo e tão distante?
Quero lembrar das coisas ruins e das boas
Mesmo que doa, mesmo que minha alma queira gritar.
Fui privado do direito de viver
E amar
Mal consigo ver
O presente passar
Quero lembrar
De quem amei
Quero voltar
Aos braços de quem perdi
Sem saber vou me lembrando
Aos poucos
Acordando
Em gritos roucos
Dizendo
Tudo o que havia esquecido
Cada segundo. Cada minuto perdido e cada doce momento
Vou sempre lembrar do que perdi, do que nunca deveras esqueci.
Não quero jamais esquecer a vida que aos poucos relembrei
Agora dou graças por tudo o que passei, tudo o que eu vivi desde pequeno.
Não posso esquecer quem um dia amei.
Mesmo sendo só mais um corpo morto na margem do escuro Reno.