"PERFUMES DA INFÂNCIA"

Tempo precioso. Quem se esquece?
Distante... presente... lembrança viva.

Infância doce feito o mel mais doce
e que tinha a beleza das flores do campo,
a alegria e o barulho 
de um bando de passarinhos
nos amanheceres da primavera,
transparente e pura como água cristalina.
Assim se foi a infância!
A minha infância!

Infância de riachos límpidos,
ladeados por samambaias de todas as espécies.
Pequenas, gigantes e com cheiro...
Cheiro de samambaia e de água.
Tinha o perfume das maravilhas ao anoitecer.
Multicores e aos montes, nos quintais
e jardins, contornados por resedás.
Tinha jasmins de perfume suave,
rosas brancas e grandes...

Tinha cheiro de pomares e de capim.
Tinha cheiro de mato!

E quando findava o dia,
a enorme família italiana,
morando agrupada,
nos quintais sem muro,
limitados por moitas de bambu,
um pessegueiro aqui,um  parreiral ali,
reunia-se numa varanda,
ou num gramado,
sob o céu só estrelado ou com luar.
A calma hora do dia,
a hora da cantoria...
E como era linda!

Ah! Tinha as histórias!
Escabrosas, tenebrosas, horripilantes,
mas não arredávamos pé!
Mesmo sabendo do medo na hora de dormir
de cabeça coberta.

Tinha novenas.
Infinitas! Intermináveis!
Cantigas de roda, com lua ou sem ela.
Tinha magia,
tudo era bom, a vida era bela.
Nem  rica, nem  pobre.
Apenas infância.

Que deixou saudade
do gosto e do cheiro,
dos amigos idos, outros perdidos,
famílias distantes e lembranças presentes.
De tempos sagrados e intensamente vividos
que não se apagarão jamais!