Toff, meu cão do coração
A crueldade fê-lo ir.
Já velho, ainda virgem, sempre rejeitado.
Jamais um sorriso ou afago.
Agora, perdeu seu lugar.
Portão aberto pela manhã
Para encorajá-lo ir embora.
Toff, olhar ingênuo e movido pelo instinto de liberdade se vai.
Corre perseguindo errante um faro incerto.
Some na curva da liberdade.
Jean, meu filhinho de 9 anos, chora inconformado
Quando descobre a fuga.
Insiste para irmos procurá-lo,
Resgatá-lo da morte certa e cruel.
Logo retorna afagando-o no banco de trás.
Toff pula feliz, rabinho balançando.
Orgulhoso por estar de volta ao seu lar.
Procura seu cantinho e enrola-se como um gongolo.
A crueldade o olha derrotada.
Mas parece jurar não desistir de seu malvado intento.
No outro dia, novamente o portão misteriosamente se abre.
Toff some outra vez.
A tristeza é geral.
Dias depois retorna.
Perna esquerda perfurada por dentada de outro cão.
Brigou, apanhou.
Voltou manco, sujo, derrotado, desprezado.
O encontrei na rua assim, manco, sujo e triste.
Não o reconheci de pronto.
Ele se aproximou cabisbaixo, olhar caído.
Ajoelhei-me ali mesmo, na rua, e o afaguei, o beijei.
Ele, por sua vês, lambeu a ferida
Como que mostrando-me
O seu estado e seu sofrimento.
O rabinho não balançava desta vez.
O chamei e ele seguiu-me mancando,
Cabisbaixo mas feliz.
Cá está ele no seu cantinho.
Velho, triste e esperando a morte.
Um cão vítima da crueldade.
Aqui é o seu lar, aqui é que deve morrer! Proclamo.
Quando eu estava longe, como sentia saudade de seu latido!
Quando a agonia da saudade fazia-me sonhar,
Lá estava ele, no sonho, balançando sua cauda e lambendo os pés das crianças.
Eu acordava sorrindo no meio da noite.
Outras vezes quando pelo telefone falava com as crianças,
Podia ouvir ao fundo o latido do Toff, como me dizendo:
Oi, estou aqui e com saudades!
O Toff populou os meus sonhos de saudades da família.
Dói vê-lo abandonado como um animalzinho qualquer.
Toff não deve sofrer.
Não pode morrer.
Mas Toff morreu...
Vou tê-lo para sempre no meu coração!