LEMBRANÇA FÉRREA

Cerca de tábuas como horizonte

Acordava sempre pela madrugada

Limitado passos e pensamentos

Hora em que o trem noturno passava.

O apito ao chegar próximo da estação

Acionava a minha imaginação

Mentalizando a sua aproximação

Parada obrigatória em Ramiz Galvão.

O cheiro característico do carvão

Combustível que embalava pensamentos

Deixando-me muito forte a sensação

De poder flutuar corredores adentro.

O ranger das rodas de ferro

Ajudavam-me muito claro a imaginar

Enxergando os viajantes da porta

Na expectativa de parar e saltar.

Depois o silêncio indicava

Que a cesta de peixe frito rodava

Oferecida, quase suplicada

Pelos valentes vendedores da madrugada.

Um rangido seguido de apito, voltava a indicar

Ele, novamente pelos trilhos a se movimentar

Eu, pairado sobre a cama a meditar

Todo auditivo até o trem silenciar.

Na virada de lado, aferrado ao colchão

Procurava dormir novamente ligado

Nos movimentos noturnos da estação

Na próxima aventura de sonho acordado.