RETALHOS DA VIDA
Minha manta tem retalhos
Azuis, alegres, floridos,
Entre milhentos trabalhos
Pelo destino reunidos.
Os que foram mais pesados
Surgiram neutros, cinzentos.
Cosi-os mais espaçados,
Pressurosa, sem lamentos.
Se uma lágrima caía
Sobre um retalho da vida,
Minha agulha a compreendia,
Ao se afastar comovida.
E a manta com pontos lassos
Ficou mais fina, mais frágil.
Não pesa tanto nos braços,
Ainda me sinto ágil!
Agora vou-a alindando
Com linha feita de amor.
Nos negros eu vou bordando
Uma saudade, uma flor.
Quero levá-la comigo
Já esgaçada, sem surpresa.
O Senhor, meu grande Amigo,
Me perdoa, com certeza!
Lisboa - Portugal