Soldadinhos de Chumbo

Soldadinhos de chumbo

tementes a generais...

A mim também, e aos meus amigos

que atentos olhávamos

do alto de nosso “gigantismo”

a prancha, que inerte se passava

por caserna, por sobre a antiga mesa

no porão da casa de um amigo meu.

Obedientes à “pátria de chumbo”,

de bandeiras azuis;

iam à guerra na defesa

de mórbidas idéias.

Lutavam bravamente contra

outros que foram também

à mesma luta por tolos ideais...

Belas indumentárias, malhas e parafernálias.

Metralhadoras, fuzis, canhões,

aviões, motos, caminhões e cantis e outras tralhas...

Gestos repetitivos, estáticos,

gritos e palavrões emblemáticos.

no ensejo de batalha...

Não os podia ouvir, mas meus colegas de “guerra”

faziam ao vivo – por prazer – uma tradução em altos brados.

Traduziam, aos berros, o idioma dos silenciosos soldados

que representavam nossas inconscientes vontades,

sonhos que trazíamos das paradas de sete de setembro...

ou de antigos filmes em branco e preto.

Os soldadinhos de chumbo sempre a postos,

treinamentos sem compromisso

na defesa de brasões omissos.

Matavam e não eram condenados...

Voltavam cheios de glória!

Peito pesado de medalhas

o coração em frangalhos.

Heróis de causa fútil...

Guerra não foi feita para os homens de chumbo!

Sim para os irracionais...

“Ainda bem que os soldados que conheço”

da pátria que tenho ou mereço,

gente de ouro, capazes.

Estes sim! São um exemplo de heroísmo!

Treinados com orgulho e patriotismo

e violentos, jamais!

Meus soldados de chumbo,

ou melhor, os de meus amigos...

Eu era apenas mais um “observador de campo”

visitava-os, às vezes.

Eles ficavam presos entre paredes

d'aquelas que podiam comprar os melhores presentes.

Eu bem que gostaria de ter ganho, apenas

Um óculo de armação de lente verde

que ficava na vitrine do armazém do Sr. Ítalo,

no bairro Grogotó.

Passou o tempo, como passa o vento...

Hoje ainda lembro com saudade

de meus sonhos de menino....

Nunca mais pude visitar o campo de batalha

de um amigo meu que morava no centro da cidade...

Ele talvez ainda tenha o seu exército no porão,

guardado, pronto a novas batalhas

de um velho e pequeno batalhão...

Soube que se tornou oficial da força aérea.

Mas com toda certeza ele não seria um soldadinho de chumbo.

Afinal, o Brasil é uma nação de paz...

Guerra não é uma coisa boa!

E sequer é coisa inteligente...

Deixemos a guerra para os filmes,

sonhos e recordações de menino...

Vivamos a vida docemente...

José Tadeu Alves
Enviado por José Tadeu Alves em 12/02/2008
Código do texto: T856795
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