A pia do banheiro da vovó!
A pia do banheiro da minha avó
Diminuiu — ou fui eu que cresci?
Antes era tão alta, quase no céu,
E eu, pequena, subia num banquinho
Com os pés ainda molhados de infância.
Lembro do espelho, gigante e distante,
Que hoje me encara de igual pra igual.
Mas o que mais mudou, eu vejo agora,
Foi o tempo — sutil, veloz e calado —
Tecendo rugas no rosto da minha avó.
Cada linha em sua pele é um caminho,
Uma história contada sem palavras.
As mãos que antes me davam colo
Hoje tremem levemente,
Como folhas que dançam na brisa da tarde.
Os fios de cabelo, agora prateados,
Já enfrentaram verões e invernos,
Guerras e festas,
Dias de sol, noites de tempestade,
E ainda assim brilham com dignidade.
Eu, criança, não via o tempo passar.
Via só o amor no café com pão quente,
O abraço que curava meus tombos,
E o cheirinho de sabonete rosa e perfume alfazema, que a pia guardava como segredo.
Agora entendo:
A pia não encolheu,
Foi minha visão que cresceu.
Foi o tempo que, em silêncio,
Me ensinou a ver mais do que altura.
Ensinou que crescer também é
Perceber a beleza no que envelhece.
E que minha avó é um livro vivo,
Com páginas bordadas de memórias,
Que um dia li sem saber que lia.