A pia do banheiro da vovó!

A pia do banheiro da minha avó

Diminuiu — ou fui eu que cresci?

Antes era tão alta, quase no céu,

E eu, pequena, subia num banquinho

Com os pés ainda molhados de infância.

Lembro do espelho, gigante e distante,

Que hoje me encara de igual pra igual.

Mas o que mais mudou, eu vejo agora,

Foi o tempo — sutil, veloz e calado —

Tecendo rugas no rosto da minha avó.

Cada linha em sua pele é um caminho,

Uma história contada sem palavras.

As mãos que antes me davam colo

Hoje tremem levemente,

Como folhas que dançam na brisa da tarde.

Os fios de cabelo, agora prateados,

Já enfrentaram verões e invernos,

Guerras e festas,

Dias de sol, noites de tempestade,

E ainda assim brilham com dignidade.

Eu, criança, não via o tempo passar.

Via só o amor no café com pão quente,

O abraço que curava meus tombos,

E o cheirinho de sabonete rosa e perfume alfazema, que a pia guardava como segredo.

Agora entendo:

A pia não encolheu,

Foi minha visão que cresceu.

Foi o tempo que, em silêncio,

Me ensinou a ver mais do que altura.

Ensinou que crescer também é

Perceber a beleza no que envelhece.

E que minha avó é um livro vivo,

Com páginas bordadas de memórias,

Que um dia li sem saber que lia.

Lariê Dantas
Enviado por Lariê Dantas em 18/04/2025
Código do texto: T8312621
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.