A CHAMA SOB AS RUÍNAS
p/ Ana Paula Barros
Antes de tudo, um sorriso
— faísca a fender o fundo do ar,
onde as cinzas se amontoam,
sopradas na memória,
arranhando o rosto do tempo.
O sorriso, incendiário do desejo,
não se apaga ao fim da chama.
Permanece, leve, na fragilidade
de chama,
sugestão da centelha que os olhos
não podem alcançar:
vestígios do querer jamais satisfeito,
mas preso ao peito.
As cinzas, cintilantes, não caíram.
Bailaram no vento — grãos de silêncio
espalhados pelo sopro
sobre o que não se vive
e clama.
Agora, na quietude restante da chama,
o vento voga como uma voz vacilante,
tecendo traços, feito cinza e fogo,
rumores de um amor que não foi,
e, ainda assim, se põe a fulgurar