A CHAMA SOB AS RUÍNAS

p/ Ana Paula Barros

Antes de tudo, um sorriso

— faísca a fender o fundo do ar,

onde as cinzas se amontoam,

sopradas na memória,

arranhando o rosto do tempo.

O sorriso, incendiário do desejo,

não se apaga ao fim da chama.

Permanece, leve, na fragilidade

de chama,

sugestão da centelha que os olhos

não podem alcançar:

vestígios do querer jamais satisfeito,

mas preso ao peito.

As cinzas, cintilantes, não caíram.

Bailaram no vento — grãos de silêncio

espalhados pelo sopro

sobre o que não se vive

e clama.

Agora, na quietude restante da chama,

o vento voga como uma voz vacilante,

tecendo traços, feito cinza e fogo,

rumores de um amor que não foi,

e, ainda assim, se põe a fulgurar

Lusca Luiz da Silva
Enviado por Lusca Luiz da Silva em 05/03/2025
Código do texto: T8278248
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