SERESTA DISSONANTE
p/ minha primeira
paixãozinha Jenifer
A lua — pálpebra aberta da noite —
vigiava o sulco seco da sede,
enquanto o pulso, martelo de carne,
batia em vão no peito em ruína.
Sabia-me náufrago,
entre os dentes do Leste e as unhas do Oeste,
sem farol, sem facho,
nenhum risco de estrela a fosforear no céu.
As palavras, búzios quebrados,
nunca chegaram aos lábios de Calíope:
derramaram-se em cacos surdos,
restos dispersos na areia do tempo.
Cumpriu-se a sina do deserto –
onde a voz, já sem ossos,
se afunda na boca de Ananke,
e a memória dorme sem nome.