SERESTA DISSONANTE

p/ minha primeira

paixãozinha Jenifer

A lua — pálpebra aberta da noite —

vigiava o sulco seco da sede,

enquanto o pulso, martelo de carne,

batia em vão no peito em ruína.

Sabia-me náufrago,

entre os dentes do Leste e as unhas do Oeste,

sem farol, sem facho,

nenhum risco de estrela a fosforear no céu.

As palavras, búzios quebrados,

nunca chegaram aos lábios de Calíope:

derramaram-se em cacos surdos,

restos dispersos na areia do tempo.

Cumpriu-se a sina do deserto –

onde a voz, já sem ossos,

se afunda na boca de Ananke,

e a memória dorme sem nome.

Lusca Luiz da Silva
Enviado por Lusca Luiz da Silva em 18/02/2025
Reeditado em 19/02/2025
Código do texto: T8267695
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