CARNE FUTURA

Devo muito a você agora, antiga carne.

Pele deitada na cama, completamente despida.

Devo então pensar em ti.

Pensarei em ti, saída da esquina.

Pensarei em você crua, couro de salto agulha

pernas ausentes do frio.

Serão muitos anos com teus olhos expostos.

Uma nota de cem não resolveria o problema,

pois devo pagar em lembranças,

em reentrâncias.

E você nem me disse:” Venha aqui novamente

porque existem as estrelas!”

“ Venha novamente pois flores

também nascem do asfalto.”

Mesmo assim terei esta dívida.

Você durou uma hora,

e eu, tão básico,

era fincado por desejos;

mesmo assim, continuo nessa despesa fluvial

que pago quase todos os dias

como um rio que não se cansa de passar

trazendo vultos para o mar.

Estou em débito principalmente contigo,

antiga carne, antigo fôlego,

e também paciente, tranquila

sem hora para casa voltar,

descobrindo outras esquinas

tirando a intranquilidade do mundo.

DO LIVRO: POEMAS BARALHADOS

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 18/12/2024
Código do texto: T8222250
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