CARNE FUTURA
Devo muito a você agora, antiga carne.
Pele deitada na cama, completamente despida.
Devo então pensar em ti.
Pensarei em ti, saída da esquina.
Pensarei em você crua, couro de salto agulha
pernas ausentes do frio.
Serão muitos anos com teus olhos expostos.
Uma nota de cem não resolveria o problema,
pois devo pagar em lembranças,
em reentrâncias.
E você nem me disse:” Venha aqui novamente
porque existem as estrelas!”
“ Venha novamente pois flores
também nascem do asfalto.”
Mesmo assim terei esta dívida.
Você durou uma hora,
e eu, tão básico,
era fincado por desejos;
mesmo assim, continuo nessa despesa fluvial
que pago quase todos os dias
como um rio que não se cansa de passar
trazendo vultos para o mar.
Estou em débito principalmente contigo,
antiga carne, antigo fôlego,
e também paciente, tranquila
sem hora para casa voltar,
descobrindo outras esquinas
tirando a intranquilidade do mundo.
DO LIVRO: POEMAS BARALHADOS