Se eu fosse um POETA
Percorríamos o mesmo caminho, livres como pássaros que direcionam os seus olhares ao infinito do horizonte longínquo, batem asas e pousam no mais alto do penhasco, seguros e felizes, perdidos entre os galhos, da janela das ramagens os seus olhos pequenos se perdem na vastidão do infinito azul celeste, seres inocentes, porém cheios de gratidão.
Há! Se eu pudesse saber o que diz o seu canto, quando cantam copiosamente agradecendo a Deus, será que agradece pela imensa floresta verde, pela liberdade, pelo universo a sua disposição, ou talvez um anjo esteja junto com ele, e ele lhe sorri na forma de canto?
A vida é assim, o meu anjo, o anjo do amor passou como uma chuva de verão, cruzando o meu caminho, não tive como impedi-lo, ele se foi e desapareceu como um arco íris após à chuva, fiquei aqui chorando, lamentando e triste. Esse anjo era a minha luz, a minha vida parecia estar nas suas mãos, mesmo assim, sem piedade se foi, o tempo passou, foram dias sombrios, nuvens escuras, chuvas torrenciais, tudo enfim. Desde então se passaram muitos anos, eu tentei sim, más não consegui esquecer a beleza dos seus olhos, o doce som da sua linda voz, aquele sorriso romântico e sensual, os seus cabelos caracolados e volumosos, a sua pela aveludada como pêssego amadurecido, as nuances do seu corpo escultural, como a de uma deusa egípcia, são mil adjetivos, muitas qualidades em uma só pessoa. Essa pessoa talvez esteja lendo esse poema nesse exato momento.
Num dado momento o telefone toca, arrepiei quando ouvi a sua voz, no início da conversa diz o seu nome, aquela voz macia como veludo diz assim: Já faz tanto tempo, não é por acaso, o próprio tempo me deu o seu endereço, vi a sua imagem envelhecida, as marcas do tempo não tiraram os seus traços, o seu rosto parece esculpido e os seus cabelos brancos denotam a sua história, eu tenho certeza é você mesmo, disse ela. Fale comigo, quero ouvir a sua vos também. Sem opção de escolhas, as lembranças foram retiradas do baú, como cartas antigas e já amareladas, cujas palavras escritas também desbotadas, o filme começa, personagens aflorados, o papel de cada um ressurge.
Se eu fosse um poeta, eu me limitava aos versos, e nos acordes do meu pensamento eu diria:
- Eu diria ao tempo que cobrisse de flores os seus caminhos, e que as nuvens lhe servissem de proteção quando tivesse pelos campos seguindo em minha direção, que seus pensamentos não fossem em vão, e que ancorasse o seu barco, na melhor das lembranças já vivida entre nós.
- Eu diria ao vento, que cuidasse dela em todos os momentos, e que confortasse o meu coração, trazendo notícias dela, pois estou certo que sabe onde está e sopra o seu rosto e alvoroça os seus cabelos, e numa linguagem orquestrada, certamente fala de mim, pulverizando a essência do meu cheiro e do meu ser.
- Quanto as estrelas, eu diria, não peça para eu devolver a minha estrela, deixa ela comigo, pois os meus pensamentos têm o reflexo da sua luz, o seu brilho é como uma fonte de águas cristalinas, que purifica o coração e lava a alma.
- Aos mares, eu confesso, eu queria ser as ondas que cobre o seu corpo, os grãos de areia, onde ela pisa e deixa os seus rastros, e o vento egoísta com ciúmes, apaga.
- Que bom seria, se eu fosse os horizontes que os seus olhos admiram e, lhe trazem lembranças de outrora.
- Se eu mandasse no meu coração, eu pediria a ele um pouco de sensatez, para não sofrer tanto assim, aliviar a sua dor, imaginar que está descansando sobre os seios de sua amada, ouvindo e sentindo as batidas do seu coração, e então, adormecer e sonhar o mais lindo dos sonhos de amor, e não acordar desse sonho jamais.