DUAS PORTAS
Eram duas portas de vai e vem.
Por elas passava meu bem.
Eram duas portas envernizadas.
Ele vinha dando risadas.
E partia com tristeza no olhar.
Mas não podia evitar.
Chegava, fazendo festa.
E se afastava quietamente.
Eram duas portas... antigamente.
O casarão era castigado pelos vendavais.
E meu olhar se perdia nos canaviais.
Pensam que esta lembrança é de agora?
É de outrora.
Como sei que pertenço a este tempo?
Não sei...
Ou sei... sinto, pressinto.
A moça na janela a observar o verde a se perder de vista sou eu?
E o moço que parte é o meu amado?
Ó, passado!
Fecho os olhos por um momento e sinto na boca o gosto salgado de uma lágrima que rolou pela minha face.
Por que eu choraria por outro tempo, outro dia?
Que louca seria!
Mas sou!
Guardo a moça, o rapaz, o canavial, o olhar...
Guardo a porta de vai e vem.
Se guardo é porque me faz bem.