O SEU OLHAR

Por um breve momento, eu te olhei.

Perdida no seu olhar, meu coração doeu.

Uma história de imensa tristeza, eu senti.

Uma expressão de quem muito sofreu.

 

Contava a história de quem na rua nasceu.

Em um canto qualquer, ao léu, sem teto.

Por graça, só de Deus, sobreviveu.

E na feira, sem lar, cresceu, sem afeto.

 

Vivia de restos de comida que encontrava.

Levava do povo: xingamentos e pedrada.

Pequena e reluzente, o rabo balançava.

Não via a maldade das pessoas, era dada.

 

Nunca teve um carinho verdadeiro na rua.

Seguia as pessoas, em busca de atenção.

Apesar de tudo era alegre e ingênua.

E ouvia muitas palavras de repulsão.

 

Tinha pureza e encantamento, e era sensível.

Sorria sempre e tinha muita meiguice.

Apesar de tudo, sempre foi invisível

Mas, o coração permanecia da criancice.

 

Às vezes, alguém lhe dava atenção.

Ela seguia e a pessoa lhe dava comida.

Porém, dizia que não tinha condição.

E a pequenina continuava nesta triste vida.

 

Logo entrou no cio e pegou uma barrigada.

Como sua mãe, na rua ela pariu, também.

Fraca e doente, ela precisava de ajuda.

Mas, não teve auxílio e ninguém pelo seu bem.

 

Alguns flhotes, nem com vida puderam nascer.

Outros logo pegos por carro, foram.

A luta foi grande para algum sobreviver.

E os bonitinhos, as pessoas levaram.

 

Ela estava doente, e ninguém para acolher.

A cada dia só piorava, e invisível, continuava.

Os ossinhos começaram com destaque a aparecer.

Aos poucos as doenças a consumiam e ela minguava.

 

Eram tantos males, que as patas não equilibravam.

Seu olhar cada dia mais profundo ficava.

Até que enfim, boas almas a socorreram

Mas, já era tarde, ela não se recuperava.

 

Porém, apesar de tanta ingratidão humana.

Tanto sofrimento, desprezo e tristeza.

Ela não guardou mágoa, foi serena.

Era um ser de luz, superior e de imensa beleza.

 

O teu olhar em mim ficará como tatuagem.

Nunca vi tanta gratidão depois de tanto descaso.

Você se foi, mas, em alguns deixou a mensagem.

Apesar do desprezo, perdoastes com o seu coração generoso.

 

Obrigada por eu tido o privilégio de fazer parte da sua vida, mesmo que tenha sido por tão pouco tempo. Mas, não deixaremos que a sua bebê tenha a mesma sina.

Noélia Alves Nobre
Enviado por Noélia Alves Nobre em 09/09/2024
Reeditado em 09/09/2024
Código do texto: T8147420
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