Tapera
Vinha eu por uma estrada antiga,
Sem pavimento ou qualquer outro benefício,
Havia algo diferente; o pensamento me dizia,
Que por longos tempos por ali se arribaria,
Ao castelo de meus sonhos de infância,
Sem torres, reis ou rainhas de verdade;
Ali se erguia, mais que uma frontaria;
Eram os domínios da deusa Liberdade.
O cheiro da caatinga me dizia pelo vento,
Quente, em surda melancolia, me conhecia por certo,
Pois tão de perto me cingia como um cão,
Que a seu dono reconhecia.
Não há trombetas neste reino; só silêncio,
Vez por outra quebrado por um canto solitário,
De um pássaro ordinário que resolveu gritar,
Para um amigo, que passa, já lendário.
Filho do passado, já não me sinto um estranho,
Aos poucos me invade a confiança de outrora,
E, a essa hora, parte de mim se reconhece,
Neste reino, liberdade, e até arrisco,
Uma corrida pela estrada. Falta pouco!
E, como um louco de felicidade, busco o passado,
Que por aqui deixei. Busco uma alma confortada,
Que vagava livre pelo nada que ainda encontrei.
O tempo passado me confunde, mas agrada.
Depois da curva, por certo, encontrarei,
O castelo que procuro. Nítido em meus sonhos;
Suas colunas de barro e pau-a-pique são reais em mim,
Porque o tempo passado pesa sobre o valor da vida,
E, quanto mais queridas as lembranças, menos tem fim;
Depois da curva, tenho certeza, ele estará lá, real e livre.
Meu coração dispara a cada passo como se um portal aberto,
Me desse passagem através do sonho em sua realização.
A vida é cruel para o homem que tem o sonho como alento;
E ela surpreende, depois da curva, com a dura realidade,
Não por maldade. O tempo constrói, também destrói.
E o meu castelo não resistiu ao tempo longo de espera;
Suas colunas rastejam pelo chão, disformes, sem utilidade,
Cobertas pelo tempo cruel e pela inútil hera;
Suga do meu eu toda alimentada felicidade:
O passado será sempre uma tapera.