LEMBRANDO MEU PAI
Meu pai transpirava mansidão.
Tinha um cheiro de mato,
De água, de pássaro...
Olhava muito para o chão
Como se quisesse ver o infinito...
Reconheço que é muito pouco o que digo sobre meu pai. É que as palavras me fogem quando quero falar de amor. A vida dura me embruteceu, por isso, peço emprestadas as palavras do poeta Herculano de Alencar, e as faço minhas para me desculpar do meu, embora tardiamente.
"Peço perdão, meu pai, mesmo tardio,
Por cada um abraço que não dei,
Pois que meu ego age como um rei
Que prescinde da água no estio.
Peço perdão por não ter dado um pio,
Invés de implorar por teu abraço,
Pois que meu ego é frio como o aço
Que corta o cheio dentro do vazio.
Peço perdão, meu pai, por ser teu filho
E não luzir em mim o mesmo brilho
Com que iluminaste o meu caminho.
Peço perdão, enfim, por ser poeta
E ainda assim não ter a rima certa
Pra expressar, por ti, o meu carinho.
Herculano Alencar