Rosas e Memórias
E se talvez, apenas por um instante,
como num sonho de fim de noite,
daqueles em que sonhamos a realidade
moldada em nosso sentimento mais profundo,
eu pudesse consumar o tempo da gente.
Aquele tempo urgente, ofegante e inesperado,
um tempo que, se pudesse ser resgatado
das memórias de cartas amareladas,
poderia estar em um sonho de fim de noite,
daqueles que acordamos com a sensação de que foi real.
Mas foi real? Quando aconteceu?
O sonho se confunde com a realidade,
de um tempo outrora, que agora,
está registrado apenas nas cartas,
que talvez eu tenha escrito
e alguém talvez tenha guardado.
Como uma roseira em flores,
com suas pétalas em cores fortes no brilho do sol,
que possa nos ferir com seus espinhos pujantes.
Mas a beleza da rosa é proporcional
à ferida de seus espinhos,
e ao quanto de pétalas ficaram pelo caminho.
A separação deixa marcas sutis,
ecos de conversas interrompidas,
nos cantos vazios do coração,
como um vento frio que sussurra memórias,
um vazio que pulsa na ausência,
uma saudade de um tempo que não volta mais.
O sofrimento se aninha em notificações silenciadas,
solitárias e silentes.
A dor, como um rio, segue seu curso,
antes urgente, agora vagarosamente.
Em meio à rotina, a cura vem sem alarde, discreta,
embora a ferida, hoje, permaneça como cicatriz.
Os lamentos cessaram, as lembranças se perderam
nas cartas amareladas, guardadas em caixas de sapatos
e esquecidas num armário qualquer.
Mas a roseira, com suas flores em destaque,
mesmo com seus espinhos,
sempre haverá de florescer.