Lágrimas de Casarão

Escorre em pedras, gotejos e tempo, um cinza feio de ruir.

Tijolos soltos, da prisão que fugiu o cimento, a massa e barro amotinado.

Casarão e velharia, estrada de bois e sorrisos, um ipê, uma saudade.

Sob a colina de um sol, de ribeiro, de varais, um curral, um umbuzeiro.

Ah, casarão de velhos tempos, de risos e sábados felizes, de moçoilas e olhares.

Perdeu se discreto e tolo, como águas bem tranquilas, quando descamba pro mar.

Fingiu ser forte e vazio, de solidão e poeira, adoeceu entre céus e relógio.

Descolou a telha e pau, da viga que escora e chão, descascada tinta cansada.

E a estrada se fez daninha, erva que tão cubriu, sufocou num chão de cacos.

Descasou o vil sorriso, perdeu o belo e terraço, debruçou no solo a beleza.

Meninos e homens velhos, dormiram antes de ti.

Todavia, tão chegou, morte, tumba e cascalho, ruínas de sótão, escadas e tábuas nada belas.

Pedra é alma de gente, de construção e amor, moços, feios e corrimão.

Poeira, estrada e casarão, findam de quadro e moldura, tijolos tão bem resquícios, pintura de nunca mais.

Escorre em pedras...

João Francisco da Cruz