NAQUELE TEMPO
Existia uma dinâmica fotografia,
Uma geografia diferente,
Uma inocente poesia,
Um verde mais abrangente.
Existia a contemplação, o mirante,
O barracão de pau a pique, a mina,
Cristalina, constante, sonante,
Retirante, talvez, para além de Minas.
Existia a comunhão, o portão sem trava,
A pobreza, o pedido: - ô sô Zé,
Me arranja um coada de café,
Depois eu pago; e pagava.
Existia a Dona Dalila, minha avó,
Que mulher, que beleza, que resistência,
Desatava qualquer nó,
Em pró da solidária sobrevivência.
Existia ante a janela,
Uma imensa paineira, soberana,
Eu e minha mãe, conversávamos com ela,
Coisas da carência humana.
Existia um menino a esperar...
Sempre ouvindo no rádio, rock and roll,
Por um pai que viajou para trabalhar,
Todavia, nunca mais voltou.
Existia a canção do vento,
Entre as frondes do arvoredo,
A dança das andorinhas, o contentamento,
De um eu participante do enredo,
Sem medo de inaugurar a esperança.
Existia um periférico semeador,
De sonhos um construtor de alianças,
Que acreditava na plenitude do amor,
Existia o olhar de Beatriz,
Que me deixava completamente encantado,
Hipnotizado por aquele mítico matiz,
Irresponsavelmente apaixonado.
...Existia naquele tempo, um ser mais feliz.