LEMBRANÇAS
LEMBRANÇAS
Carlos Roberto Martins de Souza
Minhas paredes velhas então desgastadas
Podem ser para você apenas um passado
De quem viveu muitas noites assombradas
Que quer esquecer tudo e sair apressado
Se você entrar, vai logo sentir e pensar
Que os meus tijolos antigos não têm vida
Que não é boa coisa para você recordar
Pois foram dias de felicidade reprimida
Quem chega aqui lembra daquela rede
Vai tentar não prantear, será impossível
Se verá encostado solitário na parede
Com saudade da infância inesquecível
Vai lembrar do vai e vem do balanço
Da cadeira antiga na varanda saudosa
Onde o vovô dormia no seu descanso
Sonhando sozinho em verso e prosa
É uma casa morta, tudo nela se perdeu
Não há portas, muito menos há janelas
O tempo consumiu, fez peça de museu
Lembrada apenas em algumas aquarelas
Casa velha é uma história abandonada
Os morcegos que nela fizeram moradia
Mostram que há muito tempo foi deixada
Esquecida naquela beleza que foi um dia
A gente sempre levantava muito cedo
Para ver lá no horizonte o belo sol raiar
Numa espreguiçada ouvir o passaredo
Em um bando nas árvores alegre cantar
Outrora era um recanto cheio de alegria
Lugar de festa, choro e de muita festança
Templo sagrado e agora só traz nostalgia
Mas hoje é apenas uma vaga lembrança
Minha mudança não foi a coisa marcada
E abandonar você eu jamais pretendia
Viver e morrer aqui era coisa pensada
Mas o destino me foi cruel, que covardia
Até um frio lá naquela cabana na roça
Tinha para muitos a sua compensação
Em noites friorentas de geada grossa
Era gostoso conversar ao pé do fogão
Quantas histórias criei e vivi neste lugar
Sei que você está velha e não antiquada
Foi morada, abrigo, refugio, foi o meu lar
Obrigado por ter me servido como morada
Quando fechei a sua porta pela última vez
Chegava a hora de ir para sempre embora
As lágrimas caíram trazendo uma palidez
Num último adeus de alguém que chora