Existência torta
Eu não sei por onde andas,
Menina do sorriso torto,
Das pintinhas nas bochechas,
Talvez sapateando sobre um tablado,
Ocupando uma cozinha Masterchef,
Fazendo defesas na Suprema Corte,
Contra-argumentos apaixonados de lógica,
Usando sua toga e diploma de Direito,
Balançaria o dedo em riste, atrevida,
Sacudiria seus cabelos ruivos,
Daria com os ombros debochada,
Se não fugisses mais do que eu,
Se não fugisses de mim,
Se não fugisses de ti,
Bateria em minha porta sem cerimônia,
Me diria meia dúzia de coisas assertivas,
Talvez me desses uns tabefes merecidos,
Mas o que sobraria do olho no olho?
Saberias, sentirias, admitirias?
Dirias: - "Odeio-te pelo que fingistes,
Mas não me deixes! Só não te deixes!
Tua existência tão torta a minha comporta e complementa".
Soulmates, fios vermelhos,
Emaranhados no embaraço,
Enrolados nos vieses,
Seríamos inquebráveis,
Possíveis nas impossibilidades,
Uma comédia na tragédia dos dias,
Pecado transformado em bênção,
Forças da natureza contra a mesquinhez humana,
Talvez fizéssemos muito sentido,
Reescrevendo novas histórias de amor,
Revertendo enredos, personagens e cenários,
Seríamos o que quiséssemos ser,
Nos libertando de julgamentos alheios,
Sem dever nada a ninguém no mundo,
Baby, teríamos todo o tempo que a nós restasse,
Teríamos todos os prados das campinas que pudéssemos conquistar,
Bastaria continuarmos sendo quem éramos juntos,
Eu seria essa poesia viva,
Você seria a ironia dos tempos,
Nos amariamos docemente com ardor,
Como ninguém mais faria por aí,
Entre sussurros de prazer e realização,
Acenando para o destino curvo da vida...