Nostalgicamente

Quando a saudade apertar, nas ruas eu deixei,

Poesias que nunca cantei, pessoas que nunca chamei,

Nem para mim, nem pra ti,

Nem por nós, nem por avós.

O instrumento enterrado em Diamantina,

Sob o Caminho dos Escravos,

Que o único diamante escasso,

Era o violino de cristalina.

Se sente falta dos dias nublados,

Lembre-se dos galhos abafados,

Dias de chuva,

Dias de memória turva.

Porquanto os dias ensolarados,

Lembre-se da praça com os afastados,

Sentados em árvores,

Livres em seus cárceres.

Quando a tristeza apertar,

Há rimas e risadas no Jatobá,

Todas as vezes que fugiu para lá,

Até se cansar.

Se vier a solidão,

Lembre-se do Centro Cultural,

Momento descomunal,

Nada maior que a união.

Se por acaso a raiva invadir,

Lembre-se do momento para escola ir,

Caminhadas curtas e singelas,

Que não deixaram-no desistir.

Na influencia do álcool, na influência de si,

Não te deixa ir, por mais saudade tenha,

Lembre-se que és novo,

E que Deus te tenha.

E se o acaso, casualmente lhe oprimir,

Adiante, há de sorrir,

Carrega seu corpo, o fardo,

Como cada pena de um pássaro.

Um passo de solidão, sem nunca estar sozinho,

Convive consigo, convive comigo,

Sou tu e me és, mesmo barco e convés,

Não há tempo para autores ou rés.

Atraia os inimigos, traia o mundo se precisar,

Não perca, nem se troque pelo mar,

És natureza, és belo, mas irá te afogar,

Depende do recuo que a areia mostrar.

Quando bater a nostalgia,

De toda a vida ser uma orgia,

Veja que tem alegria,

E que não é reação de alergia.

Procure na Mestra Fininha,

Na Santa Casa no quarto duzentos e nove,

E de fininho,

Chore, se comove.

Em Divinópolis, naquele terreno baldio,

Na praça da Rosa Mística, aquele menino vadio,

Naquela nuvem em formato de carta,

Na praia em frente a venda da Marta.

Oh, pequenino, esconda essa faca,

Somos asfalto do caminho de cascalho,

Escondemos a beleza da natureza,

Escondemo-nos por faces.

E em caso venha o espírito aventureiro,

Saiba que não me achará no telhado do Athenas,

Nem terá no centro minhas penas,

A pena, é que nostalgia, é memento de alegria.

A poesia, não necessariamente é alegria,

Se apresenta, se aposenta,

Em qualquer cena violenta,

Nas paredes, nos disparos, na sentença.

Enquanto quando a saudade apertar,

Desista de se procurar,

De saudade ao anseio,

De melhora, eu creio.

Quando a saudade apertar,

Nostalgicamente,

Tenhamos em mente,

O quanto mentimos pra gente.

De mim, para o eu,

Do ego que morreu,

Da criança que sufoquei,

Do menino que eu negligenciei,

Ao jovem que envenenei,

Do adulto que me tornei.

Nostalgicamente,

Não esqueça da gente,

Por todas as vidas passadas,

São experiencias a serem vivenciadas.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 12/04/2024
Código do texto: T8040103
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