Olhos de cão azul (de novo)
Hoje pensei em ti,
"Olhos de cão azul",
você me disse há 10 anos,
e eu repassei para alguém,
alguém a quem li o passado,
mas que como eu sobreviveu,
levantou-se dos escombros,
encontrou uma luz no breu,
saiu das intempéries com marcas,
ah, ninguém se ergue sem cicatrizes,
ninguém sai da dor sem remendos,
mas saímos eu e ela, fragmentados,
pois como sempre, nunca inteiros,
mas saímos vivos e isso é um alívio,
não que o caminho depois fosse fácil,
não que novas dores, novas tristezas,
novas decepções, novos desabamentos,
não nos alcançassem, eles sempre vem,
às vezes com avisos, às vezes de surpresa,
mas chegam e nos põem à prova de novo,
e aí nos lembramos de quem somos,
e eu lembrei de quem sou e de quem fui,
lembrei de quem me tornei com você,
lembrei de como você me salvou,
lembrei do que me ensinou sem cobrar,
lembrei do carinho das letrinhas azuis,
de cada mensagem enternecida e delicada,
lembrei do manejo tão perfeito das palavras,
daquele jeito que me fez sentir tão bem,
o aquecimento em noites de frio intenso,
sim e lembrei de Olhos de cão azul,
hoje isso faz tanto sentido para mim,
um sentido que não entendi à época,
um significado que fui descobrindo,
com o tempo, a ampulheta que nos rege,
e hoje entendo que embora fosse um sonho,
tu fostes isso na minha vida: um sonho,
jamais um pesadelo e às vezes eu ainda te procuro,
e escrevo Olhos de cão azul para quem sabe,
um dia, acordada, encontre as palavras nas paredes,
encontre as palavras nos murais, nos pisos, nas vidraças,
ou simplesmente as encontre aqui e me responda:
Olhos de cão azul!