Âmbar e o tempo
A avenida que foi chamada um dia no dezenove
e no vinte de Rua do Commercio,
(arcaísmo aqui, senhores)
disfarça muito bem na rapa contemporânea
de asfalto, capa e farelo,
amarelo no cair do crepúsculo desta tarde/noite vinte um.
Foi chamada vinte seis de um novembro pós-guerra e,
acreditem vocês,
hoje tem nome de prefeito,
(as homenagens nunca são definitivas no mundo volúvel dos homens),
aqui já não quero mais falar de números,
nem de políticos.
Como é perfeito o esconder numa cápsula do tempo
(Aí sim, meu Deus!)
e na memória coletiva de âmbar os paralelepípedos,
as terras batidas,
as passistas do samba,
as marchas dos parvos estudantes,
(fui um também, mais parvo que estudante),
as bestas exauridas de um lamento de nunca mais.
Ontem vi uma fotografia antiga que,
num esmaecimento de sépia,
atormenta um passado remoto que não vivi.
Mas me veio na memória:
carnaval, futebol,
fanfarra e miopia, História,
esses sim.
Os paralelepípedos,
o âmbar e o tempo continuam ali por baixo,
basta cavoucar.
Melhor não...
Arqueologia de cérebro é uma doença sem cura.