Passarinho a cantar
A lágrima que pinga no meu sangue tem talento,
Recolhe o ventre,
E todo o tempo ferido.
Recolhe e dá um abraço garrido,
Nos motivos que cá não deveriam estar.
Assopra um alívio inimigo,
Num respiro evoluído,
Enquanto salga meu rosto.
Sussurra em meus ouvidos que nada é novo,
E que também noutrora pode voltar.
Caminho solta na gentileza,
No desejo, na firmeza,
E na incerteza de esperar.
Espero o tempo me dizer,
Que nada tem relação com o ninho,
Que nada é Passarinho,
E o peito explode ao voar.
Tô marcada num ferro quente,
Num ferro que sustenta a mente:
No aqui, no acolá:
Me diga você se isso tem cura!
Me diga se esta amargura,
Tem seu tempo de passar.
Ascendo aquela vela, aquele pensamento,
Aquela conversa de alívio,
Um fomento de vida ao pensar...
Tiro a roupa, dou um mergulho,
Me afogo num canto curto,
Num canto estridente de sabiá.
Me perdoa, carne minha,
Me perdoem amados meus,
Dou-me alguns dias, vou descansar.