Casa Velha
Casa velha, ninho velho abandonado
Tu és peça única
Porque em nada foi copiado
Construção só em madeira
Sem usar concreto armado
Cobertura de duas águas
E uma cozinha de puxado
Uma varanda em forma de éle
Com uma cerquinha de alambrado
A chaminé do fogão de lenha
Se mostrando no telhado
Casa velha, ninho velho abandonado
Tu também és genuína
Porque nada foi importado
Teu alicerce de puro cerne
Que ali no mato foi tirado
Os barrotes são de angico
Do vermelho e do rosado
O assoalho puro cerne de cabreúva
E muito bem aplainado
Com as tábuas de pinheiro
Que de tão antigo, já em pé havia secado
Casa velha, ninho velho abandonado
Muito além de seu feitio
Tu guarda a história do nosso passado
Lembro da foto que tiramos
No dia que foi inaugurada
Onde os irmãos formavam uma escadinha
Com a pai e a mãe do lado
Todos ainda muito jovens
Cabelo preto bem penteado
E a família toda reunida
Rezando o terço ajoelhado
São momentos bem felizes
Na história do nosso passado
Casa velha, ninho velho abandonado
Tu és igual uma viola antiga
lá no prego pendurado
Que ainda nos traz lembrança
Quando cedo éramos acordados
Pelo som do rádio de pilha
Que o pai havia ligado
Para ouvir canções caipiras
Recordações de um passado
E no ferver do chimarrão
Um punhado de pinhão
Sobre a chapa sapecado
E o leitinho da guiné
Misturado com café
Que na panela era preparado
Casa velha, ninho velho abandonado
És igual uma paineira amiga
Onde o tropeiro faz cesteado
Todo domingo ou dia santo
E também quando era feriado
Sempre tinha um belo frango
Com o pescoço destroncado
Que a metade ia pra sopa
A outra metade, era um molho preparado
Sempre havia um pão macio
Que no forno foi assado
E pra comer de sobremesa
Sempre tinha ali na mesa
Uma tigela de sagu
Com compota misturado
Casa velha, ninho velho abandonado
Tu parece um ninho antigo
Lá no galho pendurado
Aonde tudo era alegria
Até o destino ser traçado
Veio o gavião cruel
E, além disso, muito malvado
Levou logo a mãe do ninho
Deixou os filhotes assustados
Os filhotes já sem rumo
Cada um voou para um lado
E na primeira providência
Deixa o ninho abandonado
Casa velha, ninho velho abandonado
Tu não está sozinha
Tem um companheiro do seu lado
É o forno, velho amigo
Companheiro do passado
Que apesar de muitos anos
Nunca saiu do seu lado
Até parece um cachorro amigo
Que do lado do dono fica deitado
E se o dono perecer
Ele morre junto ali do lado
Casa velha, ninho velho abandonado
Tu tivestes as cores do arco-íris
Hoje só o desbotado
São as marcas do tempo
De muitos anos passados
Até o assoalho da varanda
Pelo tempo foi furado
E o porão todo aberto
Já nem tem mais o cercado
E os caixões de mantimentos
Também foram desmanchados
Só ficaram as peças antigas
E tudo isso, lembra o passado
Casa velha, ninho velho abandonado
Tu és igual a um livro antigo
Que guarda história do nosso passado
Quem aqui vos fala, não é um poeta
E também, não é um letrado
Mas é apenas um filhote
Que neste ninho foi criado
Esta não é um poesia
Nem tão pouco um verso rimado
Mas é uma singela homenagem
A ti, casa velha, ninho velho abandonado.