Carta ao vento
Hoje escrevi uma carta que você nunca vai ler.
Quatro páginas, sem rascunho, de próprio punho.
Comecei meio sem graça, me enrolando, pensando no porquê escrever.
Mas eu precisava dizer, nem que fosse pro vento, que você ficou bem no fundo.
Não você de verdade, um sujeito já de meia-idade.
Mas aquele você de então, que arrebatou meu coração sem piedade
há nem sei quantos anos, numa sala cheia de gente, num final de tarde.
Fiquei hipnotizada, encantada, desde o primeiro segundo.
Não achei que você me daria assunto, mas criei oportunidade.
Afinal, naquela idade, era cheia de coragem e vontade de conquistar tudo.
Contrariando as previsões de meio mundo, conquistei você. Eu!
O empurrãozinho que faltava foi também uma carta, esta que você leu.
Não existiam filtros, redes sociais, tinder nem falso perfil.
Só uma menina, que sabia o que queria, que não desistiria, e conseguiu.
Primeiro foi como um sonho, o paraíso na Terra
O fogo que queima mas não incinera.
Só renova, motiva e acelera.
Foi o primeiro amor, o primeiro tudo.
Exatamente o que eu queria.
E quando cheguei no topo do mundo
eu me senti vazia.
Porque só eu me dava, cem por cento de mim, e não recebia
pelo menos não o que eu pedia (e precisava).
Ainda imagino se você me amou um dia
e, se sim, porque nunca lutou por mim.
Ou se fui só mais uma, desimportante como nenhuma.
E se nos encontrássemos, o que eu te diria?
Acho que eu perguntaria (ou faria transparecer):
Eu também fiquei em você, ou passei como os anos?
Tão evidentes nos meus cabelos brancos.
Tanta conexão, paixão, desencanto
que agora eu contei, suspirando,
na carta que você nunca vai ler.
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