LEMBRANÇAS DA ROÇA
LEMBRANÇAS DA ROÇA
Carlos Roberto Martins de Souza
Vou contar a vocês em causos e prosas
Minha história lá na minha bela terrinha
Fui criado onde as coisas eram penosas
Lá na roça fiz a minha pequena casinha
A coisa era muito difícil era um tormento
Podia fazer muita chuva ou brilhar o sol
Você precisava ralar para ter seu alimento
Para obrar só tinha aquele terror o urinol
O fogão a lenha sujava tudo de carvão
O banho famoso de bacia era um terror
Fazer barba na navalha era uma aflição
Sentar no penico era um enorme pavor
O tal do sabugo no balaio era um desafio
A gente olhava para aquele rolo peludo
Ao pensar no ritual batia aquele arrepio
O contato com rolo deixa o sujeito mudo
Dormir era um pesadelo muito doloroso
Aquele colchão de palha era um inferno
Pensar na barulheira era algo pavoroso
A noite se tornava um sofrimento eterno
Passar a roupa era um desafio infernal
O ferro de brasa não ajudava ninguém
A gerigonça exigia uma paciência brutal
Quando acabava restava dizer o amém
Lavar roupas exigia aquele preparo brutal
Esfregar cada peça usando a munheca
Usando aquele sabão de sebo de animal
Para lavar pano de prato também a cueca
A tal lamparina anunciava sua presença
Aquele cheiro de querosene ardia o nariz
Sua chama acanhada traz na lembrança
Noites de um tempo que a gente era feliz
Na casinha lá na grota do seu Zequinha
A benzedeira Maria fazia as suas orações
Ela dizia curar até aquela dor na espinha
Só não tratava daquelas fortes emoções
O padre da igrejinha rezava o pai nosso
Mas da vara do nosso pai não nos livrava
Quando ele vinha dava na gente um troço
Você me paga, de longe o velho gritava
Na roça se faltar algo não se preocupe
É só pedir para quem primeiro lembrar
Pode até gritar da janela e não se culpe
Pois tá todo mundo querendo te ajudar
Depois vem o bom vizinho muito ligeiro
Com um sorriso estampado e pergunta
O que precisa meu amigo companheiro?
Conta comigo que na luta a gente se junta