A MENINA QUE PASSAVA

A menina passava e sorria,

distante, sorriso indefinido,

como que dizendo:

a vida é uma mentira,

foge dela... foge...

 

Fugir de quem,

da menina ou da vida?

Nunca entendi aquela dúvida.

 

A menina sempre passava

na frente da minha janela,

todos os dias...

olhava e sorria...

todos os dias...

 

Todos os dias, ficava eu a contemplá-la,

colocando distâncias entre nós.

Distâncias preenchidas por receios?

Infundados receios...

 

Muitas vezes pensei chamá-la,

perguntar-lhe qualquer coisa,

mas nunca...

nunca...

 

Um dia...

a menina não mais passou;

ficou um vazio...

um vazio preenchido

por arrependimentos das coisas,

das muitas coisas que não fiz,

muitas outras coisas...

 

Zildo Gallo

Americana, SP, 13 e 29 de agosto de 1975.

Revisão: 05 de junho de 2017.