TEMPOS DE INFÂNCIA
Era eu ainda criança,
Em minha casa recuada
No dias da minha infância
Na antiga rua calçada.
Na esquina, a sorveteria do Seu Zé,
Onde sorvete eu ia comprar.
Mais à frente a venda do Seu Bebé,
Doces diversos tinham lá.
Noutra esquina o mercadinho,
Para nós, um supermercado.
Em frente, no açougue: toucinho,
Frango e carne de gado.
Ali, havia o mundo numa rua só,
Na praça, a padaria e pão quentinho
Na casa vizinha, uma Banda e o seu Dó.
Tinha carnaval e os bloquinhos
E o trio elétrico já tinha cantor.
O quintal era meu bosque
de cerca viva e um pé de ameixas
Na frente havia um quiosque,
Lá adiante tinha uma igreja.
As sementes de maravilha
Forravam de vermelho o chão
Com elas fazíamos trilhas
Nos caminhos da imaginação.
Nas tampilhas de refrigerante
As mais bonitas das panelas
Só inocência, nem sal , nem corante.
A imaginação dava o sabor a elas.
A caixa de fósforo era o nosso fogão.
A do creme dental, o nosso armário.
Acredite! Não nos faltava nada, não.
Tínhamos todo o necessário...
A chave do Kitut abria o mundo!
Abria o carro, o armário, o lar...
Mas era o cheirinho de biscoito frito
Que nos fazia parar de brincar...
Deixávamos a porta aberta
Corríamos para as mãos lavar
Deixávamos a casa montada
Queríamos de novo voltar...
Mãos lavadas, comida na mesa:
Em uma caneca, café com leite;
Aqueles biscoitos da realeza,
Que eram bons à beça, um deleite!
Não tínhamos prata ou ouro
Nem os brinquedos da Estrela
Mas ainda vale mais que tesouros
Inventar as nossas brincadeiras.
Dos tempos da minha infância,
Das lições que eu trouxe de lá,
Não importa as circunstâncias,
É-nos de relevância o saber nos alegrar.