A FORÇA DO VENTO
O vento zunia levantando a areia seca
que voava, desordenadamente,
obedecendo a sua direção
e desafiando quem quer que fosse
a acompanhar seu ritmo frenético,
chicoteava os arvoredos
desgarrando a folhagem já enfraquecida
e espalhando flores silvestres
pelo chão batido de terra,
fazendo abortarem os frutos
ainda em formação de embriões.
Na roça, num campo ao desabrigo,
o vento sacudia os cabelos louros
das espigas de milho,
tentava devastar o arrozal
com seus cachos dourados,
chegando ao ponto da colheita
e espalhava por todos os lados
as vagens de feijões ainda em crescimento
e amedrontava até os espantalhos,
dublês inertes de camponeses,
com sua cantiga nervosa
e corrida desesperada, sem destino.
O vento açoitava as nuvens
levando a chuva para bem longe ...
Na cidade, onde tudo é diferente,
o vento brincava com as mulheres,
levantava suas saias,
desgrenhava as cabeleiras
e fazia o que bem entendia
porque era livre, sem amarras,
sem dia nem hora
para galopar na corcunda do tempo.
Ah, o vento ...
O vento brincando sempre de ser criança...
Maria Nascimento Santos Carvalho
Site: www.marianascimento.net