A FORÇA DO VENTO

O vento zunia levantando a areia seca

que voava, desordenadamente,

obedecendo a sua direção

e desafiando quem quer que fosse

a acompanhar seu ritmo frenético,

chicoteava os arvoredos

desgarrando a folhagem já enfraquecida

e espalhando flores silvestres

pelo chão batido de terra,

fazendo abortarem os frutos

ainda em formação de embriões.

Na roça, num campo ao desabrigo,

o vento sacudia os cabelos louros

das espigas de milho,

tentava devastar o arrozal

com seus cachos dourados,

chegando ao ponto da colheita

e espalhava por todos os lados

as vagens de feijões ainda em crescimento

e amedrontava até os espantalhos,

dublês inertes de camponeses,

com sua cantiga nervosa

e corrida desesperada, sem destino.

O vento açoitava as nuvens

levando a chuva para bem longe ...

Na cidade, onde tudo é diferente,

o vento brincava com as mulheres,

levantava suas saias,

desgrenhava as cabeleiras

e fazia o que bem entendia

porque era livre, sem amarras,

sem dia nem hora

para galopar na corcunda do tempo.

Ah, o vento ...

O vento brincando sempre de ser criança...

Maria Nascimento Santos Carvalho

Site: www.marianascimento.net

Maria Nascimento
Enviado por Maria Nascimento em 19/12/2007
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