AQUELE CANTO
Piou tão lindo em minha janela
Canto de anúncio
Ali era primavera
E as margaridas pequenas espeliam o pólen
Para abelhas lamberem
E em mel fazerem
O labor do dia
Eu seguia
De cada espirro saía uma gota de mim
Que se espalhava naquela terra em que a beleza jazia
Onde os nascituros eram grandes palmeiras
Um barulho de corredeiras
Serpenteava o chão
A cobra verde me olha
Apreensiva
Entre as folhas de jamelão
A rã espremida
Na pedra lisa de limo
Coacha ao parceiro
Te amo
Ela o disse
Nessa noite de quase-verão
Sinfonicamente
Harmoniosamente
Tudo ali estava plantado por outras mãos
Felosa cantou, comeu e gerou
Olhou-me, nossos olhos tristes
De medo voou
Outros cantos ouvirei
Outros espirros darei
Outras lágrimas terei
Devo aprender dizer-te não.