Tapera

Passando pela estrada dá pra ver restos de vida

Um pedaço de parede que teima estar em pé

E nos cacos de cimento uma tinta colorida

Num rabisco de uma santa em comprovação de fé.

No terreiro esquecido, o machado na madeira

Sintomas de retirada sem tempo para pensar

Queria muito saber a tua história verdadeira

Pra ver se assim eu consigo, o quebra cabeças montar.

Dá pra sentir a energia que ficou neste lugar

O balde ainda no poço, por alguém que não voltou

A corda ficou pendente parecendo esperar

Quem usou do seu serviço, e depois abandonou.

O velho poço de balde, hoje virou armadilha

Por tempos matou a sede, de homens e animais

Foi fonte de água pura que sustentou a família

Mas sem cuidado e limpeza, a água não serve mais.

Teu teto velha tapera, tantos amores abrigou

Quanta vida aqui nasceu, cercadas por tuas paredes

Muitos por aqui passaram e quanta vida aqui findou.

Quantos aqui se embalaram usando as tuas redes.

Quando passo aqui tapera, dá vontade de ficar

Tentar entender um pouco o que aqui aconteceu

Saber qual foi o motivo pra alguém te abandonar

Deixando prá trás os sonhos e tudo o que aqui viveu.