DE POETA PARA POETA
Menino eu era, a mestra
de língua portuguesa
pediu uma redação.
Que falasse sobre
o que gostaríamos
de ser. Eu queria ser
um poeta. Li, porém,
um poema de Drummond,
que falava que era
impossível sonhar.
Mal meu, sonhei com
lentidão pela minha
estrada de vida.
Caminhei e caminhei
por vários caminhos
mantendo aceso
o sonho de ser poeta.
Hoje vejo que eu
devia ser poeta
o tempo todo que
gastei sonhando.
Porque Drummond
acabou confessando
que ele e a turma
dele achavam proíbido
sonhar aqui. E que deviam
fundar o Brasil. Ou fundar
ou inaugurar, e nós
os que amamos os
versos de Drummond
sonhamos só para
contrariar Drummond.
E aqui estou
sonhando que sou
poeta. Poeta!