SAUDADES QUE ME DOEM

SAUDADES QUE ME DOEM. (Quando voltei a minha terra)

SAUDADES QUE ME DOEM.

(Quando voltei a minha terra)

De volta a terra em que nasci

Quis rever o meu passado

Dei de encontro com o relógio do tempo

Que marcou tudo o que eu vi

O que um dia eu ali tinha deixado.

Vi a casa em que nasci

Com suas paredes rachadas

As suas portas rangendo

Tem muito mato na calcada

No telhado os morcegos e os maribondos

Já fazem a sua morada.

Vi um armador de rede

Que pelo cupins está sendo comido

E os retratos deixados na parede

Como a me perguntarem

Porque eu havia partido.

No quarto quando eu cheguei

Fiquei tonto, não quis entrar.

Vieram-me lembranças tão tristes

Quando relembro me fazem chorar.

Foi lá que avistei o velho colchão de capim,

A foto de papai desbotada, dizendo para mim:

Meu Filho, daqui eu também parti!

Para nunca mais voltar.

As lágrimas já desciam nos olhos

E eu queria ver o que ainda tinha

E para minha tristeza

Vi num canto da cozinha

O pé de uma mesa,

E a tampa de uma quartinha.

Pensei em voltar atrás

Mas meus passos me tangiam à frente

E quando cheguei na cozinha,

Vi petisqueira quebrada

Candeeiro de gás no batente

Chaleira de zinco no atagé

Com ela mamãe fazia o café

E o aroma acordava a gente.

Vi o fogão de lenha

Com seu bueiro esfumaçado,

A máquina de moer milho pró-xerém

Mostrava-me que o tempo também

Tinha as suas moendas enferrujadas.

Vi a saudade assentada

No terreiro da cozinha

Dei de encontro com um passado

Que eu pensei não mais tinha

O dia estava nublado

Fazia-se meio escuro

E para meu desespero

No final do terreiro

Ainda tinha o monturo

Lá eu vi osso sem tutano

As tiras de uma sandália wakiki

Carros feitos de flandres

Tampinhas dos refrigerantes caliper.

Avistei a caixa de um rádio Semp

Nele o reporte eresso vovô ouvia

O cabo de uma navalha

Com quem a barba papai fazia

Junto ao pau de uma burrica

Onde agente se divertia.

Tinha liga de baladeira, ponteira de pião!

Vidro de brilhantina, cueca de saco de algodão!

Tampinhas de cajuada e desodorante mistral

Caixa de pó cashimiro bouquet

Junto à porteira de um curral.

Tudo me fez lembrar as festanças

Quando nós éramos crianças

Relembro, ajuntava muita gente...

Os vizinhos, os compadres e os parentes.

Ali eu parei, olhei, chorei, chorei...

Dei meia volta e entre prantos saí.

E ao chegar no terreiro da sala

Soluçando ainda li

A frase na calcada

Que quando eu parti escrevi.

ADEUS CASINHA QUERIDA

BERÇO DA MINHA VIDA

FOI DIFÍCIL TE DEIXAR

MAIS DIFÍCIL SERÁ TE ESQUECER.

Amiraldo Patriota

(Patriota partiu do sitio mocambo (Itapetim – PE) em 1977).

E ao sair escreveu a frase acima que ainda hoje se

Encontra na calçada da casa em que morou.)

(O pai de Patriota faleceu em 1975 no estado de Minas Gerais e por lá mesmo foi sepultado, quando ele tinha apenas 13 anos de idade).

Amiraldo Patriota
Enviado por Amiraldo Patriota em 02/02/2023
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