Alma de Criança
Numa manhã, já bem adiantada, uma chuva caia,
Na rua a água que corria, pelo espaço o vento,
Eu sorria, lembrando da infância que longe seguia,
Querendo o deleite, mas o que tinha era um tormento.
O som que vinha lá de fora, a água caindo na bica,
Era uma tentação magnífica que vinha da alma,
Que impulsionava o corpo, mas a idade dizia fica;
Prevalecendo a alma, fui entrando com muita calma.
Era amável aquela sensação inigualável,
Lama aos meus pés, querendo sobre ela livre correr,
Mas algo muito forte me segurava estável,
A mente voava, eu andava, e voltava a viver.
Fui seguindo com um andar vacilante, tateante,
Sempre avante; a felicidade não tem fronteiras!
A alma pode, mesmo sobre um corpo oscilante;
Nesta hora a verdade e a mentira são traiçoeiras.
De volta, ao meu abrigo, seguro e realizado,
Sei que não era apenas chuva que caia, mas esperança,
Gotas que a alma incendeia, pranto do céu canalizado,
Molhando meu corpo de velho na alma de criança.