NEBLINA
Que visões surgem no meio da neblina!...
Nunca foi tão difícil andar na rua
Onde agora vivo — tentando ser forte! —
E onde ora tristemente o meu ser tem sido,
Olhando admirado no morrer da lua,
Variadas ilusões de toda sorte!
Algumas almas que saem e comigo
Cruzam, para o dia a dia de labuta,
Criam doces ilusões pra minha mente,
E, na hora em que o sol apenas se pressente,
Em branco nevoeiro, bem resoluta,
Se delicia minha mente de tais visões!
Quantos enganos que produzem espantos!
De repente avisto ao longe um casal
Que, devagar, vem, e os meus olhos insistem
Em ver, nos dois, meus pais que não mais existem!
Como a minha alma só se enchia de prantos
Num vislumbre envolventemente irreal!
Como essa névoa mexeu com meus sentidos!
Os cachorros enormes que pertenciam,
Talvez ao vizinho — o senhor André —,
Agitados em extremo, pareciam
Os irritados lobisomens que invadiam
E aterrorizavam o campo do Seu Zé!
Repentinamente o Calor da minha vida
Surgia em visão de fênix renascida!
É a loira, aquela que vira na esquina,
A que invade meus sonhos todo dia?
O cruzar de olhares dentro da neblina
Desfaz a ilusão de fênix genuína!
Era apenas uma mulher na neblina...
A verdadeira se foi... Ela se foi
Para nunca mais voltar! Porém, consigo,
Levou o fogo do amor e os longos cabelos
E, quando ela se foi, trouxe o eterno gelo!
Meu Deus, o que tal neblina fez comigo?!
Quantas miragens nessa realidade!
Sua verdade na rua era envolvente
E, preenchendo todas as esquinas,
Projetavam-me o passado no presente,
Numa dança de sentidos que fascina,
Quando era envolvido pela opacidade!
Não vi mais a Renascida na neblina.
Contudo, via um homem de olhar discreto
Puxar, pois, sem trégua um caixote secreto
Que julgava eu ser a Arca da Aliança,
Trazida com chicote que bem domina
O tal homem com bastante confiança!
Na névoa brancamente leve e sem trégua
À medida que de casa me aproximava,
Sumiam todos muito rapidamente...
Sobravam só ruídos esbranquiçados?
Sweet Dreams dançava na minha mente?
Era só um funk qualquer que me incomodava!
Difícil voltar pra casa na neblina!,
Em meio às ilusões doces de seus encantos...
Quando subo a rua em seus mistérios
E cruzo com o passado em seus enganos
Com os meus olhos cheios de azedos prantos,
Num impressionante momento etéreo .
Quando em casa o presente se concretiza,
As ilusões doces rápido se apagam...
O passado se dissolve com a névoa,
E o presente que não mais concede trégua
Um afago na alma não me oportuniza
Nesta época em que as decepções nos tragam!