TUDO FINDO ( ITABUNA, DEZEMBRO, 78)
Acabou. Tudo findo .
Não há mais canto
Nem sorriso lindo!
Não há mais quimera!
Morre o sonho,
Finda a primeira!
Desfez-se o elevo.
Rasgou-se os versos
Que compus um dia,
Emudeceu-me
Nalma a lira,
E o meu coração
Desalentado suspira
No último ato
Que sepultou-me
O lirismo , a inspiração
E a poesia!
- Tudo findo, louca Safira,
Desce a cachoeira
Da recordação.
Não te iludas!
Não há mais nada.
Flores murcharam
Na nossa estrada.
Apenas restaram
Dores -- decepção
Da esperança morta.
"Não se há
Abrir a porta,
Pois porta
Já não há" ,
Na ilusão já morta,
Doida Safira!
Não te iludas!
Desce a cachoeira
Da desilusão.
Joga a tristeza lá.
Depõe o pranto
Na cabeceira
Do leito
Da dor
Que no teu peito
Dorido aflora
Quando desvanece o fulgor
De outrora,
Rolando mansamente
Na correnteza
Da solidão
E agro tristeza,
Nesta quadra tão dolorida
Da vida,
Que nos é, louca Safira,
Irmã e companheira!
Tudo findo!
Não crie de sonho,
Lindo castelo!
Não te enganes,
Amor fingindo!
Não há mais canto,
Festa e alegoria,
Morreu no leito
Da lembrança
A fantasia ,
Toldando o encanto,
Matando a esperança
De um florescer
Tão belo ,
De um duradouro idilio
Que pensávamos viver
Contentes , mas era ilusão
No entanto,
Fim de festa,
Quando o destino
Silencia-nos a orquestra
Da vida , que a sorrir
Nos via!
A nostalgia
Que no peito meu
Se aninha,
Faz- me ver
Como eu fora tolo!
Um louco,
Ao crê ,
Insana Safira,
Que era muito,
As migalhas,
Os poucos carinhos
Que me dedicara.
Mas acordei felizmente .
Quebrou-se
Das nossas vidas, o elo
Oue cruzava nossos caminhos.
Desfez-se dos sonhos -- o castelo
De ilusão que tolamente
Criamos. Nunca fui teu.
Nunca foste minha!