Caladas Falem đ€
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LĂĄ estava eu passando pela movimentada avenida,
quando te vi atrĂĄs do portĂŁo, uma pequena menina,
com os olhos tĂŁo entristecidos me olhando
como se estivessem comigo falando.
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Um olhar gritando por socorro sem cor.
à uma criança triste a cada soco da dor.
Ei criança, o que aconteceu com vocĂȘ?
AlguĂ©m te violenta discretamente ou o quĂȘ?
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NĂŁo me pareceu um olhar de tristeza meramente comum,
Mas me senti culpada diante de ti, pois sou qualquer um.
Na minha cabeça, eu estaria te estimulando
a conversar com estranhos e por isso, segui passando.
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Hoje me arrependo...
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Na Ă©poca, eu nĂŁo dei a ti a devida importĂąncia,
mas após ver o tanto de criança violada, sinto ùnsia
de te procurar em todo o canto até nesse mundo encontrar
e um interesse humano profundo demonstrar.
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Sabe, tĂȘm tantos pais preocupados que acreditam na estratĂ©gia da violĂȘncia
Como melhor forma de ensinar, pois a fria advertĂȘncia,
Segundo eles, pela culpa ou vergonha a educaria,
Mas nĂŁo pensam se com isso te entristeceria...
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Crianças assim como vocĂȘ todos os dias, lamentavelmente, sofrem sozinhas
Em suas casas sem ninguém, minimamente, fazerem companhia
Como se fossem prisioneiras das hierarquias e posiçÔes fechadas
que as fazem permanecerem sem autonomia nem empatia caladas.
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Por trĂĄs da grade,
calada vocĂȘ falava...
Por trĂĄs da face,
eu sei que vocĂȘ chorava...
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E eu sĂł queria poder
dizer
a ti
que eu estou aqui...