UMA HISTÓRIA PARA CONTAR
Uma história para contar
A quem interessar possa
Do vendedor meio sem jeito
Ao condutor de carroça
Fui vendedor de frutas
Não vendi melancia nas feiras
Vendi banana e manga
Em Solânea e Bananeiras
Como ajudante de feira
Vendi farinha e rapadura
A vida não era doce
Mas com certeza era dura
Carroças enfileiradas
Molecada esperando
Silêncio respeitoso
A senhora vem chegando
Pesado balaio na cabeça
Tentando ganhar dinheiro
Lá vai a criança lutando
Transformado em leiteiro
A enxada não faltou
Nessa caminhada de luta
Uma caneta pesada
Numa vida de labuta
A escola e o tempo esculpiram o homem
História não contada em jornal
Nenhum folhetim romantizou
O trabalho informal
Um diploma dizia ser eu
Um técnico certificado
Logo percebi que o título nada traria
De modo facilitado
Ser professor do professor
Num trabalho formalizado
Com isso não contava
No meu aprendizado
Com o professor aprendi
Subir e ligar um trator
Para anos depois lhe ensinar
As nuances de um motor
Extensionista poderia ser
O cumprimento de uma missão
O aprendizado seria outro
Pois o destino disse não
Numa seca danada
Cenário de muita dor
Não me era confortável
Ser chamado de doutor
No que posso vou tentando
Construir o meu destino
Comecei muito cedo
No meu tempo de menino
Nessa caminhada longa
Não fiz da vida um calvário
A prova maior disso
Não temi ser bancário
Simbolicamente pedreiro
Desbastando a pedra bruta
Como na simbologia maçônica
Continuarei minha luta
De venerável já fui chamado
Esquisito melhor me definiu
O venerável foi temporário
O esquisito sempre existiu
Por respeitar as de cada um
Das minhas crenças não quero falar
Com elas vivo em paz
E a ninguém quero magoar
Quando a vida esteve em risco
Deus foi a minha proteção
O mal empunhou a arma
O bem disse não
No arquivo de memórias
A criança seminua ainda corre
A vida no ancião continua
A essência não morre
Ficar sem jeito me ocorreu
Muitas vezes na vida
E sempre fico sem jeito
Em momento de despedida
Uma história para contar
Muitas vezes ser repetida
Pode não ser interessante
São recortes de minha vida
João Pessoa, 31/08/2022
Antônio Ribeiro