A VARINHA DO TERROR

A VARINHA DO TERROR

Carlos Roberto Martins de Souza

Nasci e cresci em um lar muito pobre

A vida na roça para nós era o desafio

Não existia rei muito menos um nobre

Mas todos prezavam viver com brio

Não tinha para nós calor e nem o frio

Era uma vida de grande sofrimento

Banho era na bacia ou na beira do rio

A vida na roça era feita no tormento

Criar os filhos era uma luta tremenda

Éramos seis irmãos naquela palhoça

Para corrigir a vara era a reprimenda

Usada pela mãe para a famosa coça

Tinha arremesso de botina ou chinelo

Vinham acompanhados de safanões

Na hora de correr era aquele flagelo

Seguidos de gritos e muitos tropeções

Da primeira varada a gente esquece

Foram tantas que nem lembro delas

Ouvi muitas vezes um você merece

As cenas não eram lá as mais belas

Mas posso dizer não deixou sequelas

Pois eram varadas dadas com amor

Diferente de hoje elas são mazelas

Que provocam agonia e muito terror

Não tinha a Lei da Palmada na roça

Lá minha mãe sempre a nós repetia

Vara o melhor professor na palhoça

Coisa que o mundo inteiro repudia

Pendurada num prego naquela porta

Uma varinha bem seca de goiabeira

Ali ela como uma natureza já morta

Era o terror de quem desse bobeira

A vara foi eleita como melhor remédio

Dava medo ver aquela coisa maldita

Fosse o erro pequeno grande médio

Era o preço a pagar pela sua desdita

Lá a educação tinha seus conceitos

A vara de goiaba impunha o respeito

Em casa os guris sentiam os efeitos

Sabiam que pagariam pelo malfeito

Engole o choro minha mãe ordenava

Parecia até que era algum alimento

E na hora da tal via crucis eu rogava

Pedia para Deus mandar o livramento

Na casa do vizinho podes até entrar

Mas se pedir qualquer coisa apanha

Será tanto coro no lombo que vou dar

Jesus vai descer para tirar sua manha

É para você aprender a não fazer isto

Aqui em casa não entra a malcriação

E enquanto você apanha pense nisto

Comigo é assim que se da educação

Batia nas pernas depois ela escondia

Usava aquele truque já muito comum

Botava calça uma comprida e exigia

Não tire esta peça em lugar nenhum

Se ela tivesse levado umas palmadas

Aquelas corretivas dadas na bunda

Usava as mãos para coisas ornadas

Mais nobre também mais profunda

A varinha do terror foi mesmo terror

Eu tremia e suava frio pedia perdão

Clamava a minha mãe pelo seu amor

Mas sempre acabava como o chorão

Carlos RMS
Enviado por Carlos RMS em 25/09/2022
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