MEU LUGAREJO
João batista de Siqueira, o gênio da poesia, mestre Canção, natural da região do Pajeú, minha terra, sertão de pernambuco,
Cancão foi o poeta com pouco recursos , deixou seus versos imortalizados em seus livros, que alguém se interessou de publicar, nos anos de 1967 - Musa Sertaneja, em 1969, Flores do Pajeú e em 1979 - Meu lugarejo. Minha homenagem para o poeta com versos lindos e escritos em dez linhas, como melodia acompanhado de uma viola canta os trovadores de minhas terra as belezas que Cancão escreveu, e o poema aqui na página do Recanto foi criação poética de sua autoria em meados dos anos entre 1960 à 1969.
MEU LUGAREJO - João Batista de Siqueira – (Canção)
Meu recanto pequenino
De planalto e de baixio,
Onde eu brincava em menino
Pelos barrancos do rio,
Gigantescos braunais
Meus soberbos taquarais,
Cheios de vício e vigor
Belas roseiras nevadas,
Diariamente abanadas
Das asas do beija-flor.
A terra da catingueira
Criada na penedia,
Onde a ave prazenteira
Canta a chegada do dia,
Planalto, ribeiro e prado
Onde até o próprio gado,
Parece ter mais prazer
Terreno das andorinhas,
Onde arrulham mil rolinhas
Quando começa a chover.
A borboleta ligeira
Que desce do verde monte,
Passa voando maneira
Roçando as águas da fonte,
As aragens dos campestres
Pelas florzinhas silvestres,
Atravessam sem alarde
E quando o sol se debruça,
A natureza soluça
Nas sombras do véu da tarde.
Terreno em que os sabiás
Cantavam com mais queixumes,
Belas noites de cristais
Cravadas de vaga-lumes,
Meus mangueirais magníficos
Por onde os ventos pacíficos,
Atravessam mansamente
Verdes matas perfumadas,
Nas lindas tardes toldadas
Das cinzas do sol poente.
Esvoaçam preguiçosas
As abelhas pequeninas,
Tirando néctar das rosas
Das regiões campesinas,
Os colibris multicores
Pelos serenos verdores,
Perpassam com sutileza
O orvalho cristalino,
Lembra o pranto divino
Dos olhos da natureza.
Palmeiras que o rouxinol
Canta ainda horas inteiras,
As auras do pôr do sol
Soluçam nas laranjeiras,
A pelúcia aveludada
De muitas flores bordada,
Desde o vale até o outeiro
Lugar em que cada planta,
Soluça sorri e canta
Pelos trovões de janeiro.
Deslumbra a gente o encanto
Das borboletas douradas,
Pousarem no campo santo
Das manhãs cristalizadas,
Fingem variadas chitas
De fato, que são bonitas,
Porém se fingem mais belas
Que a divina natureza,
Por ter-lhes posto a beleza
Deu mais vaidade a elas.
Oh! Noite de lua cheia
De minha terra querida,
Lindas baixadas de areia
Princípios de minha vida,
Lugares de despenhados
Onde gozei descansado,
Sombra, frescura e carinho
Bosque vale e serrania,
Lugares onde eu ouvia
O canto de passarinho.
Os colibris delicados
Pelas manhãs de neblina,
Passam voando vexados
Na vastidão da campina,
Nos frondosos jiquiris
Dezenas de bem-te-vis
Elevam seus madrigais,
Lugar que grita o carão
Olhando o santo clarão
Primeiro que o dia traz.
As pequeninas ovelhas
Descem buscando o aprisco,
Colhendo ainda as centelhas
Do sol ocultando o disco,
Seguem pelas mesmas trilhas
Como que sejam as filhas,
Dum pastor que lhes quer bem
Recebendo ainda as cores,
Dos derradeiros rubores
Que o céu do oeste tem.
Vivia sempre brincando
Fosse de noite ou de dia,
Na alma se apresentando
Um mundo de poesia,
Minhas queridas delícias
Aquelas santas primícias,
Se passaram como um hino
Hoje só resta a lembrança,
Do tempo em que fui criança
No meu torrão pequenino.