SORRISO-MULATA
Se o meu sorriso se esbarrar com o teu
numa rua qualquer desta cidade pacata
Não deixes de me ser a estranha menina
com seus mitos distintos, sorriso-mulata
Quando nos reencontrarmos em lugar incerto
Intacta me esteja como uma folha em branco
Sem traçados no mapa e o coração deserto
Sem feridas na alma e nem pouco de pranto
Toda vez que nos esbarrarmos em rua deserta
que não haja memória com relógio marcado
E esqueça de quem fomos no estranho passado
E me seja sorrindo de inesperada e incerta
E, então, se esqueça toda vez de quem fomos
Se o passado é memória convertido em história
Se importam os atos e tão pouco quem somos
E se todo dia eu recomeçar a te querer...
(GONDIM, Kélisson. Sorriso-mulata. GONDIM, Kélisson (Org.).
In: Vozes Perdidas no Tempo. Brodowski: Palavra é arte, 2020, p. 146)