Lembranças da vida
Dona Tadolina olhava pro morro
Lembrava da época do engenho
Quanto sofrimento naquele povo
Não havia esperança, hoje tenho
Os meninos na rua pisando na lama
Uma mulher pariu mais um rebento
O velho envergado a velha na cama
A carroça, o cachorro o jumento
Lembrou da vila com sua tarde tristonha
O cheirinho de fumaça, as casinhas baixas
Na dispensa as carnes penduradas
No fogão de lenha o café a pamonha
Dona Tadolina com olhos embotados
Viu tudo passar em sua mente
Lembrou do homem malvado
Ele falava que preto não era gente
O homem mau ficou pelo caminho
Lembrou da família grande, dos irmãos
Do pai trabalhador, da mãe puro carinho
Hoje muita coisa mudou
Muita coisa ainda está mudando
Tem até um neto que é Doutor
O preconceito está desestruturando
O tempo passou
Ela agradecida suspirou
Diante da vida
Que nos seus olhos
Foi passando