Aquela menina
Às vezes minhas saudades me fazem falta
Sinto falta até dos motivos pra sentir saudades
Saudades da chuva mansa e do sol que ardia na pele
Saudades da época em que o relógio não me esperava
Da vida agitada e sem tempo pra estocar saudades
Saudades da falta de alguns minutinhos a mais na cama
Saudades de rir sem motivos e chorar sem medo
Saudades de dormir debruçada na mesa da escola
Saudades da hora do recreio, do alvoroço na ultima aula
Saudades de comer bolo queimando a boca
Do cheiro do vento que trazia chuva
Do medo do escuro, em noites de insônia
Do sabor de manga verde com sal
De brincar de bandeirinhas, pique-esconde, cobra-cega, passar anel
Vontade de voltar no tempo e reviver um abraço
Reviver uma amizade, esconder um segredo sem importância
A algazarra e as broncas pelo atraso nas aulas
Eu sinto saudade até dos meus medos tão infantis
Do cobertozinho "sapeca nigrim" e do travesseiro gasto, feito de paina
Saudades da criança que cresceu e já não sente medo de quase nada
Se eu pudesse, queria ficar cara a cara com aquela menininha serelepe
E certamente diria a ela para plantar muita saudade
Muitos motivos pra sorrir sozinha, lembrando de alguma "arte" escondida no tempo.
Pediria pra estocar muitos risos bobos
Muitas travessuras, estocar vida
Daria ainda um conselho, que corresse o mais longe que pudesse
Para tentar tocar o arco iris e roubar dele a cor verde
Para pintar os dias de esperança
E guardasse em uma caixinha de segredos
Para usar quando o medo a fizesse crescer pra sempre
Marina Liberato-MABE.